terça-feira, 8 de maio de 2018

"As crianças precisam de paz"

O número de casais portugueses que se separa tem vindo a aumentar de ano para ano. Com a última alteração à lei do divórcio as estatísticas registaram mais divórcios que casamentos. Pedro Strecht, pedopsiquiatra, diz que no seu consultório recebe muitos pedidos de ajuda e de aconselhamento. Por isso decidiu escrever um livro, a que chamou 'Dá-nos a Paz', publicado pela Assírio & Alvim, onde responde às principais dúvidas dos casais que passam por um divórcio onde existem filhos. Aqui ficam algumas das dúvidas que com mais frequência lhe chegam.
É melhor evitar a todo o custo uma separação só para se manter a imagem de uma família unida? Há pais que prolongam demasiado situações irreversíveis para as suas vidas, atingindo, por vezes, o limiar do insuportável, só para manter uma ideia de família nuclear, não importa a que preço. Nunca é bom prosseguir situações que não são verdadeiras e que fragilizam emocionalmente.

Mesmo quando se julga estar a actuar no superior interesse das crianças? É sempre negativo viver cenários de mentira e fachada. Isso pode deixar os mais novos desprotegidos perante a possibilidade de interiorização de modelos de relação patológicos, existindo o risco de se desenvolver a imagem de um pai ou uma mãe demasiado impulsivo ou agressivo ou, pelo oposto, excessivamente frágil e indefeso. Se os pais não estão bem na relação mútua, também não estão suficientemente fortes e disponíveis para os filhos. É útil lembrar que os filhos não são almofadas psíquicas que sirvam para amparar episódios repetidos de mal-estar, agressividade ou conflito entre os pais. As crianças não devem ser pretextos para desculpas ou inexistência de decisões que competem aos adultos tomar. Em casos de vivências diárias muito complexas ou negativas para o equilíbrio dos mais novos, uma separação pode ser, potencialmente, um alívio ou solução do problema.
Qual a melhor altura para comunicar a separação? Não existe o momento ideal. A questão do tempo é algo que deve dizer respeito à vida dos adultos e à sua capacidade para sentirem que são capazes de o fazer.

Há alturas em que as crianças e adolescentes podem ser poupados à revelação da situação? Por exemplo, momentos que estão muito próximos de etapas ou vivências importantes para os filhos, como a proximidade da época de exames, a perda ou morte próxima de um familiar, a recente entrada para a escola.
Há alguma maneira especial de comunicar uma separação aos filhos? A melhor maneira é ir directo ao assunto. As palavras devem ser simples, mas francas. De início, as explicações não precisam de ser muito elaboradas. Deve-se sempre assegurar que o amor dos pais pelos filhos não cessa ou termina por acabar a relação. É fundamental transmitir a ideia de que as crianças não têm que tomar parte do conflito. Para além de tudo isto é importante ouvir o que os filhos têm para dizer, responder às suas dúvidas e deixá-las expressar livremente os seus sentimentos.
Quem o deve fazer? Devem ser sempre os pais a comunicar a separação. Se possível é importante que os dois possam estar presentes. Se, de início, a decisão for unilateral, deve ser o progenitor que assumiu a situação fazê-lo. No entanto, há pais que nunca assumem a quebra da relação, mesmo quando esta implica a sua saída de casa ou o início de novas relações. Nesses casos, cabe a quem fica mais perto comunicar a separação.

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